O exercício do amor pelas nossas crias!

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Houve um tempo da minha vida no qual me vi sendo mãe e pai ao mesmo tempo. Eu sentia um medo enorme. Pensava: não sei nem ser mãe, como ser os dois juntos? Um outro pensamento trazia paz à minha alma: eu tinha plena certeza de que, ao sermos agraciados com a maternidade/paternidade, recebemos também outros dons – viramos historiadores, cozinheiros, cantores, mágicos e curandeiros. Também viramos onça, coruja, golfinho e o próprio rei leão! Viramos ainda estrela, sol, mar e floresta…

Por que então, apesar do nosso maior desejo de superação, nos pegamos sentindo culpa? Por que então, não conseguimos tomar posse desses dons recebidos?  Por que apesar de tamanho amor, agimos no “lado inverso”, o do medo?

Porque no fundo ainda temos dentro de nós aquela criança criada na base de coações e condições: “Se você se comportar… Se você obedecer… Se você tirar boas notas… Se você não brigar… Vai receber isso ou aquilo”. Aprendemos o amor Condicional.

E apesar de toda a evolução e luta da nossa ancestralidade, ainda corre em nossas veias e está bem guardadinho em nosso coração, os traumas da nossa criança. Ainda que façamos um baita esforço para sermos diferentes, inconscientemente, repetimos padrões. E, ao invés de emanarmos amor, sentimos raiva. Raiva, inclusive, de nós mesmos. E entramos no círculo vicioso da culpa, do medo e da raiva e, consequentemente, sentimos impotência e fracasso, como pessoas e como pais.

Aprendemos que sentir raiva é ruim e feio e então, guardamos. Quanta raiva calada reprimida! E vamos nos distanciando de quem podermos ser no momento, idealizando uma imagem de perfeição. Quantos rótulos que ainda nos habitam precisam ser destruídos.

Ficamos viciados em criar crianças boazinhas compulsivas por agradar o outro. E nos perdermos em dar-lhes limites, confundindo liberdade, liberalidade e proteção, e errando nas medidas. Educar também pressupõe não agradar os filhos a todo instante. Equilíbrio… É nesse momento que precisamos visitar a nossa infância e acolher a criança assustada e desprotegida, e nos livrar das emoções conturbadas por feridas internas ainda escondidas.

É preciso aceitar, acolher e curar a nossa criança. Agora, já adultos e pais, precisamos dar colo para a nossa criança, para então sermos o colo farto de amor INcondicional aos nossos filhos. Precisamos aceitar que somos seres em evolução e, da mesma forma que amamos os rebentos como são, eles também nos amam como somos. Precisamos liberá-los da perfeição, mas antes, precisamos nos liberar também. Liberdade para todos.

Requer um estilo mais humanizado de educação, onde não existem super-heróis, e sim, pais e filhos sempre em construção. Sem punir, sem culpar, sem negligenciar, sem superproteger. Requer tirarmos as máscaras, as armaduras e as fantasias. Requer ativarmos todos os dons divinos que herdamos. Requer aceitarmos amorosamente nossas limitações. Requer nos abrirmos diariamente para as mudanças. Requer consciência. Requer o retorno à essência: amor. O resultado? Amor! Somos amor!

Não é uma tarefa fácil, mas talvez uma das mais belas: o exercício do amor para com as nossas crias.

 

MF, 08.08.2018